quinta-feira, 29 de dezembro de 2022
115 - pescarias em mares dúbios
quarta-feira, 28 de dezembro de 2022
114 por corrigir
terça-feira, 27 de dezembro de 2022
111 - demissão
112 - ouvir a palavra
Confia
Fecha
Confia em mim
Relaxa
Baixa os braços
Descai os ombros
113 - pessoas rudimentares
109 - o céu dos sonhos
110 - a corda de segurança
Se pedes luz terás de aguentar o calor do sol
Se queres campos irrigados, sofrerás com o alagamento das chuvas Se pretendes ventos fortes para mover os barcos, sabes que chegam com eles as tempestades Se quiseres silêncio, sofres a solidão Pedes música, mas arriscas a não gostar do ritmo Se anuncias ser ateu como sofres com as superstiçõesA humanidade caminha no seu imperial egoísmo, em direcção da decadência moral.
O mundo, as diferentes civilizações e culturas, tratam as crianças como gado para abate. São aa guerras, os deslocados e exilados, a fome, a ausência de educação e formação escolar, as doenças e epidemias, a escravatura, a violência familiar e social... a humanidade cria à imagem dos seus poderes os futuros capangas na continuidade..
Boa noite. Por favor pode indicar para onde vai ter esta estrada?
Vai por aí fora. Mas você quer ir para onde? Olhe não sei. Estou perdido... Oh homem se você está perdido e está com essa preocupação toda em saber para onde vai esta estrada. Se está perdido não interessa qual a estrada que está a percorrer... Ora essa, mas assim pela sua ideia nunca vou encontrar o caminho a seguir. Você para além de estar perdido é burro que nem uma porta. O que você tem de se preocupar é onde é que ficou perdido para recuperar o lugar onde pertence. Quanto mais caminhar perdido mais tempo perdido terá... Visto dessa forma se calhar tem razão. O senhor é daqui de perto? Não sei. Eu estou perdido... Ora bolas. Se está perdido quer me acompanhar? Raios que não. Estamos perdidos em tempos e locais diferentes. Caso contrário isto era um reencontroEscurecem os outrora campos verdejantes e sentem-se correr nervuras de odores pantanosos.
Aguardemos então. O momento, este agora suspenso sem mover ponteiros, é tempo de espera e cuidados apurados. Aguardemos o sinal das sentinelas que possa interromper este silêncio mórbido. Até lá, da boca calamos aquele sopro cachimbado e que desenha pouco acima das nossas cabeças o medo do sentimento que antecipa e alerta para o tumulto.(...) "Aquele pedra que ali vês já foi o dorso de um cavalo homenageado pela sua bravura nas terríveis batalhas em que participou.
Agora é um enorme bloco de granito de forma tosca e quebrada.
Amanhã, esta pedra outrora estátua, será outra vez esculpida e contará outra história.
Será a história de outra batalha, a batalha do amor."
No instante intenso da imaginação, quando o espírito é uma brasa a extinguir-se, o que fui é aquilo que eu sou e na continuidade o que poderei continuar a ser.
Assim, no futuro, a irmã mais nova do passado, continuamente prestes a chegar, conseguirei ver-me aqui sentado, tal qual agora estou mas por reflexo daquilo que eu não serei nesse momento distante. Então, meus netos de um avô pretérito, saberão que a linha do horizonte é o presente que procuramos observar do futuro.(...) "assim termina o poema.
A voz e a elegia finalmente se cumpriram. No último momento, chegada a redenção e capitulada após a sua queda, sem poder de defesa, a luz da morte penetrou as muralhas. O Império de Idílico, soberano agora defunto, roído pela base, não resistiu a décadas de ataques interinos. Traído pelos seus escudeiros e consortes de magistratura, soçobrou com a chegada da Nova Era. Afinal, a profecia assumia o seu corpo e razão. Idílico pagou desde sempre aos seus traidores, mas a paz apresenta outro preço. As bandeiras não foram retiradas, continuaram desfraldadas na força do desespero até serem arrancadas no infame ataque... Foram levadas com os mastros arrancados das vísceras do castelo. O horizonte é um amontoado de pedras e vontades" (...)Uma mina subterrânea
Em laboração há quase 2 décadas
Rocha dura e pouco fragmentária
Existe a ideia que algures no seu interior, numa localização imprecisa está um diamante raro
Mas, é impenetrável, dela não se retira uma reacção ou caminho seguro
Tudo se reveste num enorme mistério. Se a mina é rica, se está a ser perfurada na localização certa, a que profundidade estará a suposta pedra preciosa. Se esta é consentânea com o mito.
Ao longo dos anos a actividade de perfurar a rocha da mina, foi utilizando várias técnicas e formas de conseguir penetrar numa direcção que a evidência demonstra a melhor capacidade de atingir o sucesso.
As leituras que se retira da rocha são inexpressivas. Parece ser uma zona imune e quase nada responsiva ou reactiva à agressividade das inúmeras intervenções.
Por diversas vezes quem custeia é suporta a operação decidiu ou ponderou desistir, mas a possibilidade de atingir o sucesso criou maior ilusão que ultrapassou a racionalidade. O investimento até agora realizado em toda a operação nas suas múltiplas vertentes a ser abandonado é a ruína. Custa muito mais continuar que abandonar. Abandonar é imediatamente a destruição.
Os operários estão velhos, por substituir, sem forças e doentes. Cada vez mais lhes é difícil operar.
A zona tem sido afectada com desmoronamentos internos por fragmentação de rochas e terras sem qualquer tipo de influência no processo de escavação.
A escavadora principal e a máquina perfuradora à qual têm sido aplicadas brocas de enormes e diferentes materiais compósitos, apresente enormes perturbações de funcionamento e desgaste, que leva à consequente inoperacionalidade.
Ao invés, quanto mais tempo passa baseado num processo de trabalho constante sem produzir evidência de sucesso, maior avoluma o sentimento mítico da mina não responsiva que protege o valioso diamante ou o que quer que seja que lá no seu coração em profundidade possa guardar.
A mina, por fim, tem a boca da perfuração localizada na base térrea de uma alta montanha e perfurada no sentido descendente.
A montanha que guarda este alegado fenómeno de um diamante de características inolvidaveis, está revestida por uma bela vegetação, desde a base com árvores de pequeno e médio porte até ao cume onde se encontra um manto rasteiro de flores...
Há quase duas décadas que o tesouro tem sido procurado e forças desconhecidas guardam-no com um poder que não é humano.
Contra forças desiguais, não há formas de se vencer. Talvez a montanha tenha colocado uma localização falsa de um diamante em forma de espectro ainda mais ampliado para que conseguisse enganar a real localização da pedra.
Os voluntariosos mineiros, agora exaustos e doentes, passaram a temer forças emanadas pela própria montanha, que não lhe sendo possível perceber contra o quê ou quem têm lutado, sabem que não alcançarão o objectivo de uma boa parte das suas vidas.
Estão entregues ao medo, à atracção da descoberta e à cada mais crescente sensação de frustração.
Muitos dos que descem pelo poço perfurado, fazem o trajecto em forma de despedida, outros somente levam os olhos fechados e agarram às pegas de segurança que os conduzem numa descida para o inferno.
A meio da descida, a gaiola que entrega a remessa dos mineiros às profundezas já escavada, começa a perder a força da luminosidade das lâmpadas cada vez mais espaçadas. Por essa altura, alguns dos mais antigos entoam num lente gemido o trautear das músicas que amparavam os homens que da dureza dos trabalhos, ainda encontravam força para acomodar o medo dos mais novos. Uns, outros, pediam ao Altíssimo, outros às suas mães... mas sempre durava um, adeus meu filho, nas últimas palavras.
Chegados ao fim da descida da gaiola, existe ainda um longo caminho a percorrer que embora já estando electrificado, ainda dista alguma distância a vencer. Os mineiros seguem em fila como as formigas o fazem à luz do dia. Os mais antigos são responsáveis pelo encaminhar das suas equipas para cada local das inúmeras ramificações em exploração. Aqui em baixo, o ar quase que se come com a boca aberta.
Os vivos têm a sobranceria de insistir na possibilidade de fazer trazer os mortos de regresso à vida para que estes possam explicar a sua morte ou alguns dos assuntos que não conseguiram resolver. Dizem os vivos, para que os mortos tenham uma... qualquer coisa... em paz.
Quando as ossadas são levantadas se percebe o quão estúpido é esta ideia.É impossível parar o tempo.
Realidade suprema e primeira, acima de qualquer interferência do ser humano. Mas o homem pode suspender o seu tempo. O pianista de mãos suspensas sobre as teclas do piano. O violoncelista que sustém o arco no imediato momento de soltar a primeira fricção. O escritor que com a sua caneta mantém o bico da esferográfica a milímetros da folha de papel. O pintor que deixa secar a tinta nos pêlos do pincel, ainda que consiga observar a sua sombra em contra luz na tela. E o que dizer do escultor, que com a firmeza da pancada inicial, sustém a maceta que projectará o cinzel contra o bloco de granito retirado da natureza. Só a arte consegue criar a ilusão da suspensão do tempo de forma pura, porque a arte e as suas expressões da criação realizadas pelo homem traduzem a exteriorização do cérebro na criação de memória. Arte ou a criação da memória colectiva após ultrapassar a suspensão do tempo.Um dos contos que tenho para escrever.
Construir "humanos"; não é fabricar, porque isso implicaria a existência de meios mecânicos de produção em massa, construir o ser humano e o erro. Depois entra a análise da formatação ou correcção dos defeitos de construção.
No final, cada pessoa original, adopta um ser humano construído, recebe um cartão e boletim com instruções e informações sobre a garantia.
Um pensamento
Apetece-me ser genuinamente feliz por 24 horas, adormecer feliz, acordar feliz e viver esse dia inteiro assim até adormecer de novo, mesmo que tenha de acordar em realidade.
Experimentar um estado de felicidade e alegria mas com todo o circense item de euforia anulado.
Humanamente não é possível. Obriga a fazer um esvaziamento de sensações e emoções que possam conduzir ao início de outra forma de viver, mesmo que momentânea.
O médico e a enfermeira que o tem assistido nestas últimas semanas, conversavam calmamente como que atribuindo e recebendo dicas de apoio e procedimentos.
Iniciava o processo de retirar a sedação induzida.
No canto oposto galopava do trote em rumor de choro. Duas pessoas aparentando uma idade próxima do limite se curvavam um sobre o outro com a bengala por meio a suster aqueles corpos.
O médico virou dois passos e estendeu a mão em concha sem dizer palavra.
A enfermeira revertia o processo.
Estava há algumas semanas, muito mais que as horas de felicidade pretendidas, num estado de absoluta felicidade como não havia memória de ter tido.
Revertido o processo a máquina foi desocupada.
Aquele corpo rígido vivia momentos únicos. Foi no estado de coma profundo que não se sentiu mortificado na sua dor.
A enfermeira tinha um saco com a insígnia do hospital gravado, onde estavam guardados os pertences recuperados.
Os sapatos, um lenço recuperado da algibeira das calças destruídas e ensanguentadas, um relógio com o vidro partido e a bracelete amolgada... O comboio tinha levado o resto sem se aperceber.
A enfermeira depositou o saco dos haveres e murmurou, agora está em paz, e desdobrou o lençol até se observar o contorno do nariz e da testa calva.
Passados três dias, o corpo foi enterrado e o senhor da bengala também não esteve presente na cerimónia.
Da minha varanda tenho uma lua,
Quando saio de casa vejo outra lua,
A minha cidade é muito importante, tem uma lua muito bonita,
Muitos países, tenho essa convicção, têm inveja do meu, porque acreditamos que aquela lua é impossível de ser destronada pela sua inigualável cor de prata.
Nenhum outro planeta tem a força magnética como nós na Terra a sentimos.
Da minha janela do meu quarto, conto segredos que não consigo gritar da varanda.
Quando vou na rua, não deixo de olhar para a lua, aquela luz que me protege ao mesmo tempo que persegue os meus passos.
No dia em que subi a mais alta colina da minha cidade, tentei descobrir se a lua tinha olhos.
Alguns países dizem querer colonizar a lua e fazer por lá coisas que mal se percebe como é possível destruir dois locais da mesma forma.
Será que todos temos uma lua só nossa...
... apetece-me gritar de tal forma estridente, não importa a força com que se oiça, mas que provoque uma comoção avassaladora, como a chegada de um tufão acompanhado de um tsunami que invade e destrói tudo à sua passagem.
Ouvi dizer pela boca pueril de um menino, escondida atrás dos olhos da bondade inicial, que os peixes faziam ondas como ele fazia bolinhas de sabão.
Lembro-me tão bem de tantos dias onde num alguidar de lavar a roupa, conseguia fazer saltar a espuma e as bolas de sabão. As que se soltavam, pareciam bolas da árvore de natal. Livres e soltas, acabavam rapidamente o tempo em que estavam presas naquele liquido sujo resultado de uma lavagem tosca de um qualquer trapo, dava-lhes um sopro e seguiam. Não seguiam não. Bruto, rebentava todas. A beleza, já não era conseguir que elas fugissem ao sabor do vento, mas explodir salpidando tudo. Quanto mais gordas, mais carnudas nos vestígios que transbordavam fora do alguidar.
Naquele momento, esqueci a ousada tenra idade do rapazola, e deixei-me perguntar, como é que os peixes fazem as ondas. Que sabia ele, sem ponto de interrogação que demonstra alguma dúvida, da forma dos peixes fazerem ondas. Seguramente seria pelo abanar da cauda, quando estavam em cardume, poderiam ter uma força enorme para atirar a fúria do mar através de uma massa de água enrolada e que chegava à terra...
Raios não faz sentido. Foi uma brincadeira de mau gosto, de um miúdo armado em engracadinho.
Passados uns dias encontrei-o ao lado da mãe no tanque comunitário da aldeia, ia de passagem até ao alto da colina ver a vastidão do mar.
No tanque, templo sagrado onde as mulheres nesse tempo urdiam o sagrado feminino, eram cúmplices uma das outras e que reunidas trocavam a violência de esfregar e bater a roupa, pelo momento grupal da magia do momento. Ali se cantada, sozinhas, sozinhas acompanhadas, em silêncio, ou na espiritualidade do grupo. Homem não entrava. Esse ser da comunidade nao era bem vindo por elas nem pelos seus pares. Ali só existiam as mulheres. As viúvas, as mães, as filhas condenadas à vida das mães, às meninas e meninos que na tenra idade não têm sexo que lhe bifurque o caminho da estrada dos dias vindouros, eram como seres não definidos e ainda estavam no seu tempo de não serem pecadores pela presença.
O código de vida nestas comunidades era mais forte que a lei de Deus. Só a memória dos homens das viúvas era aceite e presente. Ali estavam presentes numa invocação que as casadas dos pescadores mortos aceitavam mortificar na lembrança.
Num posto abaixo, estariam as casadas dos embarcadiços, futuras viúvas que carregavam por antecipação o peso do negro. Noutro lado estavam as mulheres dos menos capazes e dos aleijados. São mulheres dos homens que perderam a possibilidade de ir na faina. São as mulheres dos que não se levantam e só reparam as redes que os homens a sério as levarão lá para dentro. Um ou outro, já não vai pelo peso das medalhas. Um que não tem dedos que a rede lhe os levou, outro cego por ter sido picado por um atiradiço que quis fugir da rede que lhe prendia a barbatana da cauda. Havia excluídos de toda a espécie e temerários de valentias galhardas, que repercutiam o seu estatudo no tanque das mulheres da aldeia.
O bater compassado da roupa que enrola no tanque, o ritmo que ao fim de uns minutos vai sendo ganho, e depois, só depois no andamento certo entram as vozes. Lamento da vida dura da mulher do pescador que assim ajudava a tirar os restos dos dias de que aquela roupa era testemunha.
Ao fim da tarde, ainda sob a luz de fora, o homem sisudo que faz cerimónia nas palavras, passa pelos dedos a rede que amanhã será lançada às sortes. A mulher cuida do pouco, muito que há a seu lado. Os olhos dela, vigilantes e perscrutadores, saberão pela observação do homem, se o mar amanhã está de feição, se metem remos e levantam vela para sair, se vão trazer peixe, se o seu homem tem medo.
Assim são as hierarquias da comunidade e da casa. Já, até pela sorte inicial, os filhos são hierarquizados. As meninas cedo aprendem a imitar as mães, o miúdos sonham ter o seu próprio barco e pescar multidões.
Porque é que o miúdo sabia dizer que os peixes faziam as ondas, que imaginava ele da vida para se confundir com esse dito.
Olhei-o nos olhos e disse, achas mesmo que os peixes empurram o mar com a cauda e fazem aquelas ondas de espuma...
Os seus olhos diziam tudo. Perplexidade perante o modo e a explicação das palavras.
Realmente é ridículo fazer a pergunta, arriscar ser visto com a indiferença e menoridade da tolerância com que se olha para os bêbados e os desfezados da vida.
Só quem consegue nadar até ao fundo do mar e gritar, percebe a força da fúria de um grito surdo. Debaixo de água não há sons, só medo e desespero. Isso são as ondas que chegam a terra, são essas ondas que as viúvas vão ao cimo do monte tentar ouvir, a forma como se enrolam dizem muito da morte e da sorte da faina.
Inteligente, perguntou-se ao menino, se não havendo som dentro do mar, como se explica a forma como as baleias falam umas com as outras, até mesmo distantes muitos quilómetros entre si, e que não deixavam de ter resposta das suas companheiras da mesma espécie.
Aquele sorriso vindo do chão que me atingiu o olhar, viajante pela orla e rendilhado da terra, foi quase fulminante.
Como é possível que um olhar de um menino que ainda não é rapaz, pouco mais que ninguém, possa descredibilizar a vida de um homem de outras artes e afazeres. É certo que os miúdos já trazem no sangue alguma sabedoria dos pais pescadores, e que as meninas, a tristeza da viuvez das mães e avós.
As baleias não falam. Só um estúpido pose achar que as baleias falam umas com as outras.
As baleias cantam num profundo lamento.
Temos demasiadas certezas sobre o nosso futuro e as vias únicas que o conduzem,
Retiramos da equação a imprevisibilidade e o que esse caminho é capaz de provocar,
Esquecemos o efeito borboleta,
Alimentamos o vício do racional,
Impomos o pessimismo, o negativismo, o cepticismo, o dogmatismo e retiramos a circunstância. O elemento circunstância.
Reduzimos a pó a desmistificação do desconhecido, abolimos a incerteza, damos como certo a parte superior da estatística e esquecemos a possibilidade do resultado residual ser tão importante quanto o quase todo apurado. Um em cada dois, em cada milhão, em ponto nunca sai do nosso lado.
Liquidificamos a perspectiva do tempo. O tempo curto, médio e o seu fim. Não abrimos na equação do tempo a concretização de momentos sucessivamente positivos. Olvidamos que as primaveras só conseguem florir porque o agreste do inverno readobou em ciclos desde o antepassado, aquele tempo que faz nascer e abrir a cor. Todas as folhas caídas, todas as plantas mortas pela enxurrada, todos os animais definhados debaixo da invernia, todos farão renascer as terras com mais alimento. Da terra regressam à terra para proteger o ciclo da vida.
No bingo acreditamos sair o 23 em vez do 32, na roleta russa a bala está na câmara seguinte, no totoloto o nosso prémio é acumular o jackpot eternamente porque não nos sairia de qualquer maneira...
O caminho não pode ser sempre uma estrada tortuosa sempre a subir num empedrado deslizante ao sabor do musgo, e muito menos uma descida vertiginosa sem travões.
O céptico diz que não há volta a dar mas no fim sempre se emociona em olhos humidificados... Mentirosos, diz ele para si, mas os olhos lacrimejantes não mentem.
Se os olhos choram, seja de tristeza ou raiva, então o céptico é meramente uma crosta de uma ferida mal cicatrizada.
Ninguém que chore não pode simplesmente deixar de ter acreditado, mesmo que não sinta o fervor dessa crença na hipótese de um outro sentir e devir, ao mesmo tempo que se apresenta betonado pela perda. É um estado. Petrificação, mumificação, mortificação. Nenhum estado é eterno...
Se fosse possível ser descoberta a solução, alguém diria que a lágrima caída pelo rosto, aquela que não foi a tempo de se enxugar com o punho da camisola, essa e a outra, as seguintes, até aquelas que se escondem atrás de outras, salgadas até ácidas se possível, são as que libertamos para abrir, sempre inconscientemente porque não detemos a sabedoria do nosso espírito que nos sombreia e acompanha, vigilante fantasma, são as nossas defesas secretas de que não conhecemos o seu aquartelamento e geram fissuras no cimento bruto em argamassa entravada por varões de ferro, redrobados para consolidar a eternidade do que somos.
As lágrimas quão pacientes são, da mesma família dos gotejantes pingos que constroem línguas de calcário em grutas que nunca viram luz do céu, são elas que conhecem por onde o betão com que um homem é feito e abrir um ponto de fragilidade...
O tempo fará o resto.
Em sofrimento mas rasgando a inevitável ardor da tristeza de via única. Se a tristeza é o carril que acompanha o seu paralelo da felicidade, então o segredo é fazer descarrilar a nossa locomotiva.
segunda-feira, 26 de dezembro de 2022
domingo, 18 de dezembro de 2022
da sabedoria do mar e suas gentes
quarta-feira, 14 de dezembro de 2022
terça-feira, 6 de dezembro de 2022
Viagens
das formas geométricas,
domingo, 4 de dezembro de 2022
(...) Todos os textos deveriam começar com, abre ponto ponto ponto fecha
quinta-feira, 1 de dezembro de 2022
Airbus Paradoxo da corrupção
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A história do maior parafuso do mundo, da sua porca de aperto e dos afins. A vida criou o maior parafuso do mundo, seguramente para aparafus...
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As pernas são pessoas guiadas pelos pés que sentem urgências. As pernas são pessoas guiadas pelos pés que sentem urgências. Os braços são ou...
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"Eu não lhe consigo provar que deus não existe. A sua não existência ou evidência física e mensurável não me permite ter a veleidade de...