terça-feira, 27 de dezembro de 2022

 É impossível parar o tempo.

Realidade suprema e primeira, acima de qualquer interferência do ser humano. Mas o homem pode suspender o seu tempo. O pianista de mãos suspensas sobre as teclas do piano. O violoncelista que sustém o arco no imediato momento de soltar a primeira fricção. O escritor que com a sua caneta mantém o bico da esferográfica a milímetros da folha de papel. O pintor que deixa secar a tinta nos pêlos do pincel, ainda que consiga observar a sua sombra em contra luz na tela. E o que dizer do escultor, que com a firmeza da pancada inicial, sustém a maceta que projectará o cinzel contra o bloco de granito retirado da natureza. Só a arte consegue criar a ilusão da suspensão do tempo de forma pura, porque a arte e as suas expressões da criação realizadas pelo homem traduzem a exteriorização do cérebro na criação de memória. Arte ou a criação da memória colectiva após ultrapassar a suspensão do tempo.

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