segunda-feira, 13 de novembro de 2023

187

"O poeta susteve o passo,
raramente urgência maior o fazia tirar do bolso do casaco aquele pequeno caderno de folhas que mais pareciam ter sido ratadas pelo bicho da traça,
Com a mesma força com que o vapor que se afasta da chaminé à chegada ao destino,
uma locomotiva de inspiração despejava aquela ânsia de não perder palavra.
Encostado,
apoiado na força com que se tombou de contra ao peso inerte da parede, 
despejava uma torrente avassaladora com que aquela ideia se apresentou.
A inspiração da presença de um farol perdido na ponta de um cabo, porção de terra cuja língua ainda guardava essa fortificação, 
susteve os dedos da mão direita que empunhavam a esferográfica,
e agora sim, ali terminava. 
O farol tinha a luz rotativa apagada e o mecanismo solidificado pelo salitre das longas maresias.
Naquele momento principal, o poeta tinha deixado morrer o faroleiro e perdido a contagem das embarcações que circundavam aquela linha de costa. 
Percorria as linhas furiosamente escorridas na claridade da sua ilusão,
e agora, prisioneiro de si,
não se perdoava não ter chegado a tempo.
O faroleiro tinha morrido,
e com ele o poeta criador."

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