sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

141 - "Um homem chamado Ove" de Fredrick Backman

Morrer, falecer, funeral e enterro, são nomes que traduzem a morte.
São actos que diferem no mesmo processo e fim. Morreu. Acabou de falecer. Vou a um funeral. O enterro foi bonito. Tudo à mesma distância do pensamento morte. 
Na leitura, o acto de acabar de ler um livro, tem processos e sentimentos próximos de um certo tipo de morte. Morte literária.
Ove está a vinte páginas de falecer, não como personagem, mas como existência de um propósito. Vestir aquela personagem principal num registo com que o escritor a encorpou e educou para seguir uma determinada história. Termina, terminou, fechou o livro. Ele ganhou a vida que lhe demos e considerámos. 
A vinte páginas do fim, faço-lhe o funeral. Processo cerimonial do acto de enterrar o corpo. Até lá ele irá morrendo aos poucos, mesmo que... 
Por respeito, vai para o local onde morrem as personagens dos livros. Uma prateleira, daquelas parecidas como uma montra de comida suculenta que só de olhar conforta o agudizar da fome. 
Quem diz que os mortos não ressuscitam? 
Seguramente no próximo ano, sentirei necessidade de me aconselhar com aquele contraditório, obtuso homem que a cada passo transpira honra e respeito. Tem cinquenta e nove anos, um silêncio profundo que grita na forma resmungada de viver e não confia nas instituições, tal como nas quase seis décadas de vida o ensinaram a desconfiar de tudo e de todos. 
É, foi, retratou o homem que aprendeu a ser desconfiado como poderia ter sido músico ou médico. As pessoas são o que são porque por defesa própria e dos seus, aprenderam a viver a vida dessa forma. 


(...) "Amar alguém é como mudar de casa, costuma Sonja dizer. Ao início, apaixonamo-nos por todas as coisas novas, todas as manhãs nos espantamos por aquilo nos pertencer, como se receássemos que de repente alguém nos entrasse a correr porta adentro dizendo que um erro terrível fora cometido e que, na verdade, não deveríamos estar a viver num lugar tão maravilhoso." (...) "Claro que Ove suspeitava, no exemplo dado, que ele próprio representava a porta do armário." (...)
Página 278, capítulo 36
"Um homem chamado Ove" de Frédrik Backman 

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