A mudança de ano é um evento matemático baseado na renovação da rotina.
Por sua vez, para que a fórmula mantivesse uma exactidão de estabilidade e simplificação da observação do calendário nos tempos em que a mecânica da datação era totalmente rudimentar, com mínima intervenção de cálculo mecânico, foi mascarada a anulação do excesso e do defeito. A redução do erro foi inventada através da implementação do dia suplementar do ano bissexto.
A superstição necessita de ter por base a existência de uma coincidência mística, e o dia primeiro, se é absolutamente um elemento de continuidade no movimento dos astros, o calendário reveste-o de propósito iniciático. Na cadência daquilo onde o ser humano não tem intervenção, para além da observação; o sol nasce e põe-se, a Lua que compreende uma rotação sobre a Terra, que por sua vez completam em conjunto uma rotação sobre o Sol, esta constante garante da estabilidade da vida, é absolutamente indiferente ao desígnio do falso poder do ser humano.
Daqui que a componente mística alusiva à festividade da renovação da contagem diarística, retornando a um ponto de terminus da contagem artificial do calendário e iniciando nova sequência num momento redondo, tal qual a rotação dos planetas sobre o eixo do Sol, que simulasse o circulo da passagem dos dias, semanas e meses, passando pelo mesmo momento de partida mas num anel de contagem superior em espiral, vulgo mudança de ano, necessitaria de um evento visível natural, não desencadeado pelo ser humano, e que justificasse este artifício.
Se bem explicado, o lançamento de fogos naturais ou festivos no imediato segundo do fecho do círculo, simula o sinal que a humanidade procura e não encontra possibilidade de ocorrer, manifestada pelo e do cosmos.
Se a natureza cósmica traduz a contagem do tempo na representação humana por uma linha infinita, o ser humano na sua assumpção da interrogação perante o desconhecido e o até então inexplicável à luz da sua capacidade de interpretação dos factos pela limitação de conhecimentos tecnológicos, criou pela consciência, reflexão e arte, a representação do evento. Fosse por gigantescas piras de lume no cimo de montes e montanhas, ou pela explosão e queima de fogos que a mestria da química rudimentar inventou.
A matemática, expressão científica em conluio com a filosofia, colocou o dia 1 de 365, em substituição daquilo que o cosmos não nos oferece.
Se não nos emitem do espaço um sinal de alerta para a mudança e interrupção da contagem dos dias e das noites, o ser humano se encarregou de criar o elemento místico, porque ultrapassa o nosso racional e festivo, porque faz alusão ao elemento que não controlamos.
Em suma, o que a linha do horizonte infinito do tempo é, não mais que um ponto de luz em fuga, o ser humano se encarregou de o parcelar numa contabilidade artificial ao sabor do elemento da metáfora religiosa ou das ideias. A representação da consciência humana através das várias ideologias, colocou o início do seu calendário em pontos distintos do passado, aludindo às diferentes imagens que veneram, sem que consigam alterar o único ponto indivisível da equação. Em qualquer que seja a metáfora ideológica venerada, respeitando e percorendo as 24 diferentes latitudes do fuso horário, o sol nasce e põe-se sempre através do mesmo ponto de observação.
O que o ser humano não controla por criação, mistifica por alusão.
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