domingo, 27 de novembro de 2022

"Depois da noite de tempestade, onde os negros cintilam sobre os reflexos prateados da lua escondida,
Os homens decidem voltar ao mar,
Vão buscar os corpos caídos no imenso fundo lodacento.
Neste entretanto, na vigia do farol, é travada a luz na volta que se direcciona à vastidão do mar. Apontam a luz fixa, já não é necessário que circule.
O mal já foi feito, 
Os homens que já revolvem as redes destruídas, entoam os sons sofridos da morte dos seus camaradas,
São tons de sons murmurados de quem já perdeu alguém nesse abismo, ou que na fímbria de uma luz conseguiu vencer daquela vez a morte e passou a ficar em dívida.
Todos esses sabem que o mar não deixa que as dívidas sejam renovadas, 
De onde saiu o barco e que pela última vez deslaçou aquelas nodosas cordas, vozes carpideiras já choram os maridos, filhos, netos e homens de outras, mas que solidariamente sentem a sua dor.
Nas primeiras horas de noite que vai sendo empurrada, vários zarparam cumprindo o ritual do velório que os pescadores fazem, quando sabem que os seus lá ficaram.
Vamos lá.
Vamos lá buscá-los.
Não. Vamos lá chorar. Vamos lá pedir que o mar os devolva e os possamos recolher.
Quem diaria que com o nascer do sol, essa manhã fosse de mar chão... "

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