segunda-feira, 30 de outubro de 2023

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Sobre o ABSURDISTÃO.
Dá que pensar o absurdo de horas que consumimos com imagens despudoradas de qualquer censura e protecção, das vítimas e dos telespectadores. O desgaste emotivo e cerebral que se traduz num amortecimento e insensibilidade perante a tragédia das imagens, torna-nos pasto fértil para uma vivência de desinteresse e comodismo.
O pivot alerta, as imagens que se seguirão poderão ferir a sensibilidade dos telespectadores. Como assim poderão? Um corpo executado em directo, vejam este que ainda mexe, as bombas que vêm a caminho, aponta a câmara para aqui, ainda cheira... 
No início de 2020 com a estranheza da distopia que abalou o mundo no sentido regressivo dos fusos horários, conhecemos a realidade dos corpos sepultados dentro de sacos pretos e as salas de emergência hospitalar em puro estado de ebulição.
Na fatídica quinta feira, dia 24 de Fevereiro de 2022, Kiev e outras cidades ucranianas acordaram sob bombardeamento, replicando momentos vividos em outros tempos e que a memória faz reavivar o som de fuga em alerta das sirenes. Tinha regressado em regime televisivo sem intervalo, alerta, alerta, última hora, aqui vejam aqui neste canal o que mais horror e horrível poderá assistir, informação em directo..., toneladas e vagões de corpos amontoados a céu aberto, uns por reclamar outros sem se dar por isso.
Agora, num planeta já de si em catástrofe, obriga-se a juntar em trincheiras de claques, defensores e barricados em verdades não resolvidas e sucessivamente reescritas pela história. Uns de um lado, outros nos seus antípodas, os corpos voltam a estar a céu aberto, tantos por reclamar, outros sem dar por isso.
Nos estúdios de televisão em directo, correspondes recolectores de ávido sangue, comentadores do mais especialista era impossível, aqui para dar a sua opinião, que sendo sua se pretende científica e informada. Mais bombas e milhares de objectivas apontadas ao horizonte da desgraça. No estúdio alguém pensa aquilo que todo o mundo quer observa tem vergonha de assumir - e a guerra nunca mais começa. Se não acontece nada ainda mudo para o Gouxa ou para o Grande Irmão. Caro telespectador não faça isso. Espere temos sangue gota a gota para saciar a sua vontade.
Afinal a guerra ainda é pior que as raríssimas cenas de sexo mal apanhadas..., porque isso sim, haja pudor, era o que faltava dois homens ou duas mulheres a roçarem as carnes lânguidas e excitadas.
Ouvem-se as sirenes em Gaza e em Telavive. Será eco?

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