"Ao derredor do espaço confluiam sons de mar revolto, de chuva tocada a pontaria fácil e a vento capaz de descosturar a bainha de uma saia de moça mais afoita.
Ali o barulho manifestava-se por camadas. Alternadas e suavizadas a espaços, o batuque do enrolar das ondas que se findavam à beira-mar, tinha momentos que parecia subirem a falésia e serem entornados aqui no alto. O vento, esse, não sei se impulsionava as ondas, ou se eram estas que o traziam a ponto de entortar o canavial que arrimava-se contra a terra batida.
A bátega de água que caia, parecia entornada pelos deuses dos céus, furibundos por certo com algum desacerto das coisas miudinhas e mundanidades dos homens.
Esses sons tinham que ser escutados por camadas. O som da chuva tocada a vento que empurra a maré cheia ao ponto alto e seco da terra.
Encoberto da chuva pelas três árvores, o som da chuva foi passando ao respingar das gotas de água que a folhagem resistente desta invernia foi deixando cair. Já não chove, pinga agora, restos que não aproveita ao arvoredo já de si ensopado.
Saído da guarda e chegando à clareira, o vento já não traz som de chuva. Agora é só vento que fere os olhos e faz lacrimejar. Não é caso de choro das amarguras sentidas. É vento de enconsta. Enrolado pela onda, surfando a crista de espuma e vai ele por aqui acima até perder pé de terra da encosta. Ah sacana, aí vais tu, agora sem protecção de terra, vais ser vento junto a outros perdidos que como tu rapidamente chegarão a outros destinos.
Sobra o barulho do mar.
A que é que parece este som. Com o quê é que este murmurar se parece.
Quando Poseidon açambarcou todas as ondas solitárias e as juntou em molhos de sete, lançando-as contra terra, disse-lhes que fossem temerárias e assustadoras. Não temessem os homens nem as suas investidas para as suster. Com isso façam barulho, sigam e sejam mar revolto.
Agora estas ondas pausaram. Pausaram também o clamor bravio do som da sua chegada.
Devem estar ali ao longe, da vista e da costa, a agruparem para nova investida.
Aguardo momentos.
Aproximo-me da comeeira, limite alto da falésia.
Não faz vento, não faz chuva, não faz água revolta e agora em mar chão.
O som é feito por camadas.
Fecho os olhos e agora sim, escuto.
Oiço um passarinhar junto das árvores.
Oiço passos e voz. Anda, anda, aqui, deixa isso
O som é feito de camadas.
O som dos pardais foi com o vento.
Com o fim da chuva veio o homem e o cão.
O som é feito de camadas que se sobrepõem-se, e eu não consigo falar nem me ouvir...
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