Um homem dos seus quarenta e poucos anos em regresso de viagem e a pouco mais de trinta minutos de chegar a sua casa, reparou numa espécie de terreno desocupado onde estava um menino sozinho a brincar.
Teve o ímpeto de parar o carro e observar o cenário circundante ao espaço. Viu terra desmatada, arbustos, restos de entulho de alguma obra realizada ali próxima, o menino a brincar com pedras e um silêncio que se prolongava pelas redondezas.
Na proximidade das casas não se via qualquer pessoa à janela, numa daquelas tarefas básicas que não podem ser realizadas entre portas, estender a roupa, sacudir um pano, fumar um cigarro, respirar simplesmente.
O menino reparou na passagem do carro e depois da sua presença uns bons metros mais à frente estacionado.
Primeiro de dentro do automóvel e depois em pé do lado de fora, um homem olhava na sua direcção. Reparou nele mas entretido na sua tarefa pouco lhe deu atenção. Com pequenas pedrinhas construía uma estrada para, seguramente, poder trazer os seus pequenos carrinhos de brincar, isto se a construção não seja demasiado demorada e assim poderá testar a sua obra.
Quando remexeu o corpo e olhou de novo para o carro e o homem que tinha visto chegar já o lugar estava vazio.
Se bem que tinha visto ali alguém, não foi suficientemente curioso para notar curiosidade na sua chegada e saída.
Passados uns dias o homem regressou ao local descampado. Algo ali lhe tinha sugerido que a sua atenção pudesse ter sido atraída por um elemento que descurou, mas que ao mesmo tempo, a sua inexistência causava um desconforto. Tinha a sensação de alguma coisa que não explicava mas deixou uma subterrânea impressão. Tal como uma ferida ou nódoa negra que pode aparecer no corpo mas sem que possamos perceber a sua origem.
Voltou ao local. Estacionou o carro e saiu. Sem urgência e sem necessidade de acelerar o passo, deu uma volta pelo local. A luz era diferente, o som mais presente, ele era o mesmo mas num estado de alerta e curiosidade vincado, o menino já não estava a brincar agachado sobre um monte de terra. Estava um velho e um cão
O homem evolui quando planta árvores em sítios de onde sabe que não sentirá o fresco da sua sombra ou o doce do seu fruto.
Há uma idade que a partir da qual se sente anoitecer
As pessoas querem mudar o mundo mas não sabem como o fazer. Uma das principais razões para que isso aconteça é que as pessoas só querem idealizar um pensamento meritório. Mas que não tem qualquer representação através da iniciativa.
Mudar primeiro a atitude e acção individual para que possa gerar um mecanismo de mudança. Este processo, se for realizado e de alguma criar mesmo que minúsculos impactos no indivíduo, no ambiente que o redeia e repercutir nas pessoas das suas principais linhas de contacto, cada uma dessas pessoas pode de alguma forma ser um potencial candidato a recriar o movimento de acção. A comunidade local, regional e nas suas sucessivas superiores camadas, tem estatisticamente ínfimas mas cada vez maiores probabilidades de assumir uma acção colectiva. Isto gera uma percepção comunitária de produzir e induzir o bem comum.
A natureza reflecte por condição de sobrevivência e evolução das espécies, botânicas ou animais, este trabalho dos indivíduos que a compõe. Por exemplo, uma colmeia de abelhas, uma manada de gnus, um ninho de formigas. O espírito de protecção da comunidade tem tendência a gerar uma descendência forte suficiente para que possa procriar e garantir que o código genético da espécie é salvaguardo.
A contradição de todo o processo transposto para a condição do ser humano, baseia-se na consciência primária e inata de indivíduo que prevalece sobre o ideal de comunidade. O bem comum é restrito ao próprio e pouco mais abrangente que a sua linha directa ascendente e descendente possa inferir no ideal de realização pessoal. Enquanto que as espécies não humanas apresentam laços que muitas vezes só a distância os quebra, ao invés nos seres humanos nem a proximidade ou ligação de vizinhança gera condições de contacto comunitário.
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