E nisto estava a vida do homem,
Ao lado do lodacento terreno, em terra mais firme, andava a mula em circulo de passo curto, lento, pesaroso, a fazer girar o instrumento da água do poço.
Com o passar das horas os alcatruzes minguaram no peso da água, sem que isso ajudasse o bicho em leveza do arrastar das mãos da frente e das patas de trás,
A terra que a noite não ajudou a compor o carreiro, o dia menos novidade trazia.
Pobre da mula, esperemos que o animal seja burro e não pense na sua sorte,
Vai seguindo a compasso,
Pisa e repisa o carreiro,
Seguramente as palas ajudam a esconder o caminho de outras distracções,
Não vá a mula entontecer e dar-lhe um desmaio por andar às voltas, assim com os olhos vestidos sempre pensará que vai de caminho direito e não faltará que chegue ao fim.
Dependendo da jorna, diz-lhe o Deus dos animais, caso esse não seja como o outro.
Mói na terra a lama que pestilenta argamassa as urinas e dejectos vão amassando caso tratasse de um ofício de fazer tijolo.
O animal através do gingarelho dá força à roda que move o alcatruz abaixo e acima numa correia sem fim.
Tonto ficaria também se fosse de raça de agoniar,
Certo é que isso é invenção dos homens, má disposição dos fracos.
Aquele odor que o sol nascido vai tratar de o cozer só ajuda às moscas. Coitado do bicho,
Sofrido a compasso mas se pensasse, diria, antes aqui a pisar o mijo e a merda do carreiro, que a puxar carga de arrobas por contar, monte abaixo e falta de força acima.
Não havendo água, seca a horta e mirram os pés de cultivo,
Mas isso são coisas de outras artes,
A mula só resta caminhar,
À mula só resta pisar o que vai largando,
Houvesse pai que ensinasse os bichos destes trabalhos a desviar o passo.
E nisto estava a vida de um homem,
A fazer pela vida e a vida não desata.
No meio disto tudo acontece, a felicidade está no mosquêdo, a seu bel prazer, ainda podem dar uma volta do carrossel, desde que fora do alcance do chicote da cauda da mula
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