domingo, 27 de novembro de 2022

O Adérito, como todos sabem, está nos Cuidados Intensivos do Hospital da sua aldeia faz quase 4 anos.
Uma equipa médica do Hospital da aldeia do lado, sugeriu a aplicação de um medicamento novo, que tinham recebido há uns 7 ou 9 anos e como estava ali por uma nesga a passar do prazo de validade, e que podia produzir melhoras no nosso doente, ajuizadamente foram dar uma mãozinha. Uma mão lava a outra, disseram. 
Nessa noite, a enfermeira Gertrudes, vazou num alguidar o pó para dissolver em Água das Pedras e ministrou no paciente, através daquelas mangueiras que se usam nos Hospitais avançados. 
Eram rigorosamente 4 horas e 28 minutos, o galo Tom Rider, começou numa espécie de galarejo arcaico o que seguramente pertubou o Adérito em coma. Truz. Tungas....
O Adérito ao ouvir o Tom Rider virou-se para o lado e nesse entretanto despertou.
Começou a chamar "oh da guarda oh da guarda" em séries repetidas até que se ouviu no corredor as socas a bater no nalguêdo da enfermeira Gertrudes, "rais'parta o homem, há 4 anos que está em coma e agora é que lhe dá a pressa." 
Resta dizer que, para concordância da obra, Adérito chamou "oh da guarda oh da guarda", porque foi a última imagem que tem na memória daquela fatídica noite em que foi preso por assalto à caixa de esmolas do padre Juselindo, da aldeia do lado.
Aproximou-se da cama a enfermeira com a pimenta subida ao nariz, e diz "oh homem estais com péssimo aspecto, dizei lá o que queres a esta hora".
E assim de voz seca, tomara, faz 4 anos que não bebia nada, diz "o que aconteceu, que dia é hoje, que horas são?".
"Levaste com um semáforo na pinha quando ias de fugida da guarda e do padre da aldeia do lado, que estupor me saíste, com uma igreja aqui tão perto, tinhas logo de ir roubar lá para aquela gente. Estás morto em coma faz 4 anos... E são quase 5 da manhã..."
"Porrrrraaaaa 5 da manhã, por obséquio, aí por volta das 8 acorde-me que quero ver o programa do Goucha."

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